Naturalização do consumo: como a análise de dados digitais nos ajuda a encontrar tendências em diversos segmentos

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Publicado a 18 de abril de 2017


Aproximar o seu consumo de algo mais natural – seja nos ingredientes adotados ou no ritmo de consumo  – é um traço comum que observamos em alguns estudos de diferenciados segmentos feitos pela E.Life ao longo do último ano. Abaixo, mostraremos como esta tendência se manifestou em três nichos de mercado.

Um dos maiores desafios a que temos nos dedicado na E.Life é a identificação de tendências de consumo e comportamento por meio de dados abertos – como aqueles fornecidos pelo Facebook Audience Insights ou Google – ou de redes sociais – em que internautas verbalizam ou publicam imagens sobre suas impressões sobre produtos e serviços.

Utilizando estes métodos, trabalhamos tendências no consumo de bebidas, no cuidado dos cabelos e na criação e cuidados de bebês, além de estarmos neste momento trabalhando num estudo futuro sobre tendências na alimentação a ser divulgado em junho (RJ) e julho (SP) de 2017.

Observando os materiais, concluímos que existe uma linha comum às tendências nestes diferentes campos: uma reaproximação de um consumo mais “natural”.

Por consumo natural, devemos entender produtos que tenham ingredientes simples, mais próximos às realidades de seus consumidores, que sejam mais cotidianos, com linguajar menos técnico e fórmulas mais simples, com menos ingredientes. Estes fatores, além de carregar uma imagem de menor risco à saúde, permitem a experimentação e customização dos produtos com outros ingredientes. Além disso, a naturalização acontece no ritmo de consumo. Este deixa de ser mecânico e regido pelo relógio ou calendário e passa a ser ditado pelo tempo do corpo e suas demandas.

Encontraremos esta tendência, por exemplo, falando sobre bebidas e vendo o interesse por refrigerantes e sucos industrializados diminuir enquanto aquele direcionado a chás aumenta. Os chás possuem, neste sentido, além das características de naturalidade dos ingredientes em si, um maior controle de ritmo: a produção e capacidade de customização são maximizados pelo controle dos ingredientes e do processo de cocção.

Abaixo, podemos ver a evolução da variação do volume de buscas para chás, sucos e refrigerantes no Google nos últimos 5 anos. Embora este gráfico seja um pouco complicado de se ler (suas linhas indicam a proporção de variação na busca com relação ao período anterior – ou seja: chás apresentaram maior crescimento de interesse e não necessariamente maior quantidade de buscas), ele nos permite ver que o interesse despertado por chás apresenta uma curva acentuada e constante de crescimento e presença.

  • Evolução do interesse por chás, sucos e refrigerantes:

Fonte: Google Trends

O interesse por este processo mais controlado vem também associado à ideia de que ingredientes naturais têm propriedades benéficas ou desejadas. A naturalidade vem fortemente associada à funcionalidade e controle da substância usada.

No caso dos chás, por exemplo, destacam-se os termogênicos, como gengibre, hibisco e chá verde.

Mas esta tendência à naturalização não fica restrita somente à alimentação. Ela é também ligada a outros campos, principalmente àqueles que trazem alguma espécie de contato com o corpo, como o de higiene e beleza por exemplo.

Neste setor, o uso de técnicas para higienização e manutenção dos cabelos como low-poo e no-poo onde substâncias como petrolatos, sulfatos, sulfitos, parabenos etc. são controladas ou proibidas – estão em voga há tempos e fazem mesmo com que produtos de prateleira (ainda que adequados às técnicas) sejam substituídos por soluções caseiras e de maior controle, como o amido de milho e o óleo de coco.

Como podemos conferir abaixo, as técnicas têm despertado o interesse, com grande pico para no-poo em dezembro de 2015 como replicações a matérias publicadas em blogs sobre temática e que levaram o interesse a seu patamar atual.

  • Evolução do interesse por low e no poo:

Fonte: Google Trends

Por último, podemos falar da naturalização também na relação de cuidado de crianças pequenas.

Neste contexto, o fenômeno se dará em alguns aspectos, como foi averiguado no estudo “Consumer Trends – Bebês” realizado e apresentado pela E.Life:

  • Naturalização das relações de saúde: Remédios passam a ser evitados e utilizados somente em última instância. A idéia é que somente situações de alguma gravidade exijam a presença de medicação. Neste sentido, alguns produtos como pomadinhas anestésicas para a fase de formação da dentição passam a ser substituídos por frutas congeladas, saquinhos de chá de camomila e outras saídas não-químicas.
  • Naturalização da alimentação: Aqui não falamos apenas de ingredientes que sejam os mais naturais possíveis, mas também do ritmo de alimentação, desmame e introdução de novas comidas. Neste cenário, o bebê passa a comandar o tempo do processo, o que chamamos de baby led weaning ou blw (desmame guiado pelo bebê). O blw pressupõe que os tempos da criança sejam respeitados , neste sentido, o ritmo natural de contato com outras comidas.

Além disso, o bebê passa a ser responsável por aquilo que vai ingerir, ganhando mais autonomia no processo, que vem despertando interesses e ganhando adeptos:

  • Evolução do interesse por baby led weaning e desmame:

Fonte: Google Trends

Por fim, acreditamos que a busca por ritmos mais naturais está ligada a uma série de fatores, como o alívio de stress dos grandes centros urbanos e uma maior consciência de conceitos de educação da relação do corpo com o ambiente. A hipótese é que se buscam pequenos contatos com a natureza como forma de minimizar e os efeitos da vida cotidiana, além de potencializar efeitos positivos de atividades cotidianas.

As temáticas acabam ganhando também porta-vozes e defensores que podem ser utilizados como influenciadores ou fonte de consulta de conteúdo. Quem, por exemplo, duvida do poder de influência e da autoridade de Bela Gil no que tange a alimentação?

Mas ela não é a única. Temos, por exemplo, figuras como o Dr. Uronal Zancan, que defende uma medicina de prevenção, mais focada em consumos e ritmos naturais e prega o banimento de produtos potencialmente nocivos, inclusive os cotidianos como desodorantes e shampoos. Assista:

Em redes sociais, estes pequenos passos são visíveis quando retiramos a lupa dos grandes temas já conhecidos (em bebidas, seriam os refrigerantes, por exemplo, que geram grande quantidade de buzz; em cuidados para os cabelos, shampoos e condicionadores; em pediatria, alergias e brincadeiras) e ganhamos capacidade de focar nos comportamentos de nicho, onde é possível enxergar e mensurar comportamentos crescentes.

A identificação destes movimentos é fundamental para que marcas tomem a dianteira e auxiliem seus consumidores a alcançar os objetivos idealizados de naturalização no dia a dia. Seja fornecendo educação ou produtos e serviços alinhados com seus clientes.

Tendências estão em todos os lugares e são relatadas em redes sociais o tempo todo, principalmente em espaços de discussão especializada, como os grupos de Facebook. Manter um olhar dentro destes espaços é especialmente interessante para nós da E.life, que desenvolvemos uma oferta de estudos setorizados com foco em inovação e análise de tendências de consumo combinando diversas fontes de dados digitais.

E para você? Que tendência impacta a sua marca?

 

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Breno Soutto

Coordenador da E.life Intelligence