Estudo mostra que corpos gordos não são representados à proporção de sua presença na sociedade nas redes sociais de grandes marcas no Brasil

Publicado por

Publicado a 3 de junho de 2022

A população brasileira conta com 55,7% de pessoas acima do peso (fonte: VIGITEL, Ministério da Saúde, 2018), mas apenas 4% (74) das publicações tinham presença de corpos gordos circulando nas redes sociais.

Esse foi o resultado da 4ª edição do estudo “Diversidade na Comunicação de Marcas em Redes Sociais”, realizado pela SA365, Elife e Buzzmonitor, que analisou como a imagem dos grupos minoritários vêm marcando a publicidade das grandes marcas no Brasil.

Marcas de limpeza (13%) e cerveja (12%), seguidas do varejo (6%), foram as que mais utilizaram a imagem de pessoas gordas na publicidade digital. No entanto, em todas elas há a predominância do padrão magro, sem considerar a diversidade dos tipos de corpos.

“O varejo é conhecidamente uma vertical que tem o costume de fazer adequação de produto, alcançar as particularidades do consumidor”, aponta Breno Soutto, head of Insights da Elifegroup, empresa mãe das marcas Elife, SA365 e Buzzmonitor. 

“A presença de pessoas gordas em diversos segmentos ajuda a combater a gordofobia e a patologização do corpo gordo. Enquanto a invisibilização dessas pessoas na mídia reforça a ideia de que elas estão fora de um padrão aceitável e que não merecem protagonizar conteúdo para o grande público”, continua Breno.

De acordo com a Abravest (Associação Brasileira do Vestuário), o mercado plus size movimentou 6 bilhões de reais no Brasil em 2016, o que corrobora que o número de pessoas com corpos gordos representa um grande mercado a ser trabalhado. 

Esse é um exemplo de necessidade de oferta e potencial de compra desse público, que deve ser considerado como oportunidade de diversificar e oferecer produtos desta linha.

“A relação da publicidade do corpo gordo é um reflexo da sociedade. É um lugar de marginalização, patologização. Um corpo gordo ou é indiferente, cômica ou doente. O padrão de beleza inalcançável atinge as pessoas gordas. Quando falamos de moda plus size, por exemplo, muitas vezes os corpos não refletem a realidade. Geralmente são mulheres altas, curvilíneas, sem papada, que não alcançam a necessidade do corpo gordo”, conta Mari Cid, publicitária e criadora de conteúdo dentro do tema.

Nenhuma marca utilizou pessoas gordas na proporção da população brasileira. “Durante muito tempo, como pessoa gorda, eu pensei que estava sozinha na sociedade. Porque ao meu redor o comportamento das pessoas era o de sempre tentar emagrecer a qualquer custo, entrar em um padrão. E quando eu fui para o digital e vi pessoas com as mesmas demandas que eu, percebo que essas pessoas existem, trabalham, amam, fazem coisas incríveis. Que existe uma possibilidade de vida com esse corpo”, ressalta Mari Cid.

 

Estudo

“O estudo é bastante interessante porque é possível observar se o uso da imagem dessas pessoas é algo que segue situações de oportunismo ou se as empresas realmente abraçam uma postura de defender as pautas, independente do momento”, aponta William Ferreira, operations manager da Elife.

Foram analisadas postagens dos 20 principais anunciantes do país (de acordo com ranking Kantar Ibope 2018), que possuem uma ou mais marcas ativas digitalmente entre janeiro e dezembro de 2021 no Facebook e no Instagram. Ao todo, foram 11.083 posts, dos quais 1.817 continham pessoas.

No Facebook, foram analisados 5.008 posts de 39 marcas ativas, em 11 categorias de mercado. Dos 5 mil posts, 583 continham imagens de pessoas. Já no Instagram, 6.075 postagens, de 37 marcas ativas no ano passado, fizeram parte do levantamento. Em 1.234 pessoas estampavam os cards.