Sua área de P&D escuta o consumidor em redes sociais?

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Publicado a 7 de abril de 2017


A história recente do Marketing acumula mais histórias negativas do que positivas de feedback de consumidores sobre reformulação de produtos e serviços. Se olharmos para os últimos 10 anos, há de tudo: mudanças em fórmulas, mudanças de embalagem, de logo que não foram bem aceitas.

Voltando ainda mais no tempo e puxando pela memória, lembro-me que o Kotler já nos ensinava que para desenvolver boas ideias de produtos e serviços a empresa precisa ouvir o ambiente interno e externo. Internamente, gerentes de produtos, atendimento ao consumidor, Inteligência de mercado e área de promoção seriam alguns dos consultados. E no ambiente externo o consumidor seria o principal a ser ouvido.

O processo de desenvolvimento de novos produtos começa com a Geração de Ideias e Seleção das melhores ideias. Lembro-me das minhas aulas sobre o tema na graduação quando pedia aos alunos para buscar em redes sociais ideias de usos de um produto já existente que ainda não foram pensadas pela marca. As ideias borbulhavam. Consumidores on-line eram muito mais rápidos a repensar um produto do que a área de Pesquisa & Desenvolvimento jamais pôde sonhar.

Recentemente fizemos um estudo onde ouvimos as mães millennials, aquelas que têm por volta de 30 anos. Monitoramos 69 páginas e grupos do Facebook onde elas trocam informações preciosas sobre a criação de seus filhos.

Descobrimos, analisando milhares de depoimentos, 3 tendências que podem ajudar as marcas no desenvolvimento de novos conceitos de produtos e serviços. São elas:

  • Tendência 1: Não ao artificial

As redes sociais dão força para a tendência de “naturalização” na maternidade – desde o parto natural até o uso de soluções caseiras, mas sobretudo na alimentação dos bebês: são cada vez mais valorizados a amamentação prolongada e os métodos de introdução alimentar que priorizam alimentos naturais.

Neste sentido, não há dúvidas de que o leite materno deve ser o alimento principal dos recém-nascidos, mas reforça-se este conceito com a ideia de que a amamentação deve durar o maior tempo possível, mesmo após a introdução alimentar, de forma que o bebê receba nutrientes da forma mais natural, garantindo ganho adequado de peso e bom desenvolvimento.

Na busca pelo não consumo de açúcar, até mesmo os sucos naturais se tornam vilões: há preferência por frutas in natura, pois acredita-se que no preparo do suco há perda de nutrientes e liberação de frutose, o açúcar da fruta.

  • Tendência 2: O bebê faz escolhas

A tendência naturalista dá poder de escolha ao bebê: é ele quem define o quanto precisa mamar ou se alimentar. Muitas mães defendem a amamentação em livre demanda – ao invés de horários definidos para mamadas – permitindo que o bebê mame quando e quanto quiser.

Durante e após a introdução alimentar, os bebês e crianças pequenas também vão ganhando maior liberdade para escolher quando, quanto e o que querem comer. Ainda que ofereçam a variedade de nutrientes que julgam necessária, as mães adaptam o cardápio de acordo com o que seus bebês aceitam comer.

Os horários das refeições deixam de ser rígidos, e é a própria criança que define a quantidade de comida que necessita para se sentir satisfeita – comer pouco não é mais sinônimo de comer mal.

Nessa linha, vem ganhando espaço o método de introdução alimentar BLW (“Baby-ledWeaning”), ou “desmame guiado pelo bebê”, no qual os pais deixam pedaços de alimentos ao alcance da criança, que decide quais irá experimentar e consumir, levando sozinha a comida à boca. O método BLW vem eliminando o tradicional consumo de papinha em algumas casas.

  • Tendência 3: Comida é diversão

Dando maior liberdade de escolha para o bebê, os pais esperam que a alimentação deixe de ser vista pelas crianças como obrigação e passe a fazer parte da diversão.

A comida é parte do processo de descoberta do bebê e, sobretudo entre os praticantes do método BLW, comer é uma experiência que estimula todos os sentidos.

Permitir que o bebê guie seu próprio processo de introdução alimentar – definindo horários, variedades e quantidades – permite ainda que sua relação com a comida seja mais prazerosa, evitando traumas decorrentes da rigidez dos pais em relação a alimentos.

Mais do que refletir sobre as possibilidades de reformulação de linhas existentes ou a criação de novos produtos, este estudo nos fez refletir sobre a necessidade imediata da área de P&D se munir de dados quali e quati disponíveis em grande quantidade no ambiente digital para enriquecer o processo de de desenvolvimento de novos produtos e acompanhar as tendências de mercado de maneira mais rápida e próxima.

 

Alessandro Barbosa Lima

Sócio-fundador da E.life e SA365, Mestre em Ciências da Comunicação pela Universidade de S.Paulo, autor e palestrante.