Publicado por Pedro Fernandes
Publicado a 22 de outubro de 2021
Por Breno Soutto, Head of Insights do grupo Elife
A pandemia alterou a maneira como o mundo consome notícias, o que também se refletiu no Brasil. É o que mostra a edição de 2021 do Digital News Report da Reuters em parceria com a Universidade de Oxford, que aponta para crescimento da presença de redes sociais e online no segmento, mas também destaca a desconfiança da informação consumida em um cenário em que apurar a veracidade dos fatos nem sempre é fácil.
O Brasil, com 214 milhões de habitantes (Projeção do IBGE) e penetração de internet de 83% (Ministério das Comunicações) é o segundo maior impactado por mortes pelo Coronavírus, atrás apenas dos Estados Unidos (Wikipedia). Em uma espécie de guerra fria entre a mídia e a Presidência da República – demonstrada por agências de fact-checking, a Associação brasileira de Difusores de Rádio e Televisão e até mesmo instituições internacionais como a Repórteres sem Fronteiras -, o país viu sua maneira de lidar com a mídia se alterar ao longo do ano de lockdown, seja por novas naturezas de consumo ou mudanças na credibilidade depositada nos veículos de imprensa em um cenário bastante polarizado e de amplo acesso à informação.
As principais alterações, que são intensificações de fenômenos observados já há algum tempo, indicaram uma queda acentuada da TV e impresso como fontes de informação dos brasileiros no último ano, como demonstra a leitura dos dados da Reuters e da Universidade de Oxford feita em publicação de Rodrigo Carro para a Reuters (em inglês), ao mesmo tempo que online e social media mantém certa estabilidade desde 2016 como fonte de notícias.
Fonte das notícias para o Brasil: (2013 a 2021)
Digital News Report – Reuters et Universidade de Oxford_2021
Também é interessante perceber que a plataforma de consumo de conteúdos migrou. Se antes, meios físicos, como o papel, deram lugar a telas para leitura de notícias, privilegiavam-se ainda telas maiores, mais confortáveis para acompanhar textos extensos. Contudo, formatos mais simplificados de notícias, muitas vezes pensadas para o visualização somente da manchete em vez de todo o conteúdo, e formatos em áudio, muito recorrentes no WhatsApp e em podcasts, fizeram com que a principal interface com material jornalístico do brasileiro passasse a ser o celular.
Aparelhos de consumo de notícias para o Brasil: (2013 a 2021*)
*Dados para computador em 2018 estão provavelmente inflados devido a um erro de coleta
Digital News Report – Reuters et Universidade de Oxford_2021
Além das leituras mostradas por Rodrigo, também pode-se observar que a adoção de computadores para consumo de notícias aumenta com a idade do usuário, mas o de celulares não diminui, indicando que a população mais velha consome notícias por mais de uma interface:
Aparelhos de consumo de notícias para o Brasil por idade (%):
Digital News Report – Reuters et Universidade de Oxford_2021
O estudo também mostra que, ainda que prevaleça o contato com notícias online (83% dos respondentes) e por social media (63% dos respondentes), ambas as formas são consumidas com mais desconfiança pelo público brasileiro, que prefere formatos mais tradicionais e estabelecidos de imprensa, relegando às redes sociais um olhar menos confiável do que qualquer outra forma de se chegar a uma informação.
Confiança em notícias no Brasil:
Digital News Report – Reuters et Universidade de Oxford_2021
Também existe aqui um fator etário importante, com os extremos mais velho e mais jovem absorvendo as informações com mais desconfiança, mas a população entre 25 e 54 anos acreditando mais nas notícias recebidas pelos diversos meios:
Confiança nas notícias por fonte e idade no Brasil (%):
Digital News Report – Reuters et Universidade de Oxford_2021
Não é só para o consumo de notícias que as redes sociais e comunicadores instantâneos são adotados. O seu uso geral, com exceção do Facebook, tem o dobro de adeptos comparado ao uso focado no consumo de notícias, como pode ser visto pelo gráfico abaixo.
Top 10 redes sociais no Brasil e seu uso geral e para consumo de notícias (%)
Digital News Report – Reuters et Universidade de Oxford_2021
O adesão a redes também apresenta uma variação interessante de acordo com o gênero, sendo mais femininos o Facebook (74% de mulheres contra 69% de homens) e o Instagram (67% mulheres contra 55% homens) e mais masculinos o Twitter (26% de homens contra 20% de mulheres) e o Linkedin (20% homens contra 13% de mulhes) além de vieses etários consideráveis, com redes como Instagram, Tiktok e Snapchat se tornando menos populares com o avanço da idade dos consultados e outras como WhatsApp, YouTube, Facebook e Facebook Messenger sendo mais adotadas pelos consultados mais velhos.
Top 10 redes sociais no Brasil e seu uso por idade (%)
Digital News Report – Reuters et Universidade de Oxford_2021
A pesquisa, além de apontar os principais jornais online e offline do Brasil, indica também o quanto eles são considerados confiáveis pelo público
Principais jornais online do Brasil (%):
Digital News Report – Reuters et Universidade de Oxford_2021
Principais jornais televisivos do Brasil (%):
Digital News Report – Reuters et Universidade de Oxford_2021
Veículos com maior confiança no Brasil (%):
Digital News Report – Reuters et Universidade de Oxford_2021
O estudo também traz dados sobre a disposição do brasileiro a pagar pelo consumo de notícias. Segundo os dados, apenas 17% dos entrevistados pagaram pelo acesso a notícias no último ano, com destaque para homens, que pagaram pelo material em 21% dos casos.
De forma geral, embora o brasileiro esteja mais aberto a consumir notícias diretamente de suas redes sociais e por meio de comunicadores instantâneos (e relate fazê-lo com mais frequência do que por outros meios), estas formas são vistas com bastante desconfiança e ainda há preferência por veículos e empresas consolidadas e que se responsabilizem pelas informações passadas.
Há aqui espaço para que veículos mais tradicionais de jornalismo reforcem sua presença e linguagem em redes e criem incentivos para que o consumidor migre para uma área paga, talvez com informações mais aprofundadas ou talvez com outro tipo de financiamento, via publicidade por exemplo e para expansão para canais pouco explorados, como o Whatsapp, além de oportunidade para que as notícias sejam tratadas de uma maneira mais próxima à linguagem dos novos meios, por novos players, com novas abordagens e formas de negócio.